segunda-feira, 24 de março de 2014

avó.

avó sei que estás bem. estás em paz. olhas por nós e vives no lado esquerdo dos nosso peitos. o coração é a tua morada há mais de três anos mas ainda não habituei. há dias mais fáceis que outros. há dias em que eles apenas passam e com a correria do dia-a-dia não penso na falta que nos fazes. que é mais que muita. há dias em que penso em ti com um sorriso, respiro fundo e aceito. há dias que são mais fáceis que outros. há dias em que os pensamentos vêm e eu deixo-os permanecer na minha mente. há dias em que a saudade se apodera de mim e tira-me o ar, aperta-me o coração e enche-me de raiva. há dias em que as lágrimas escorrem à velocidade luz e eu não as consigo parar. nem quero. sei que estás bem e que só nos queres  ver bem. mas há dias que preciso de limpar, descarregar. passaram mais de três anos e sinto esta raiva que me possuí mais controlada, mas ainda está muito presente em mim. sei que só querias sorrisos e que apenas pensasse nos momento bons. tenho todos os meus bons sorrisos para ti e os pensamentos são os melhores. mas a raiva avó, a raiva não consigo libertá-la. ela sufoca, ela corroí por dentro. o melhor de tudo é que, em certa parte, até me sabe bem. sinto-me mais livre depois das lágrimas, mais leve depois da raiva que se encarrega de mim. sinto-me um bocadinho perdida avó. a situação da mana não ajuda. não sei o que fazer, que caminho seguir, que decisão tomar. não sei se estou a ser demasiado dura ou passiva. pessimista ou realista. conformista ou activista. em toda esta situação. sei que estás bem mas preocupada. gostava de te poder dizer "não te preocupes, eu tomo conta", mas a realidade é que não sei o que fazer avó. tenho 99% de certeza que tu saberias o que me dizer, que decisão tomar e talvez isto não tenha chegado a este extremo. fazes tanta falta. não quero que te preocupes quando me vires chorar como agora ou quando me vires com aquela raiva de toda esta situação. quero que saibas que faz-me bem chorar e que irei ultrapassar as barreiras com a tua ajuda, claro, e pensando na tua força. no teu exemplo. na tua história. no teu amor. mas isto sou eu. não consigo passar esta força para a mana e pais. às vezes eu também não ajudo eu sei. as palavras duras saem-me da boca e as atitudes são as piores. mas eu tenho pena. mágoa. frustração. como é que chegou a este ponto. como é possível. como. acho que ainda não estou em mim, nem eu, nem os pais. acho que não estamos a dar a devida importância ao que se passa. penso que não é o suficiente. será que a única opção que falta é mesmo a correcta. será. tenho medo de errar, tenho medo que seja tarde de mais, tenho medo que tudo corra mal. tenho medo de perde-la avó. medo. penso nisso e choro. e a raiva volta. e as lágrimas. e as dúvidas. há dias melhores que outros. há noites melhores que outras. hoje é uma noite das outras. 

1 comentário:

Catarina Vasconcelos disse...

Sei o que isso é...sinto muito a falta dos meus avós também...